O juiz federal Roberto da Silva Oliveira, da 6ª Vara Federal de Santos, encaminhou Ana Cristina do Nascimento Paim, administradora de empresa, para Tribunal de Júri, por tentativa de assassinato a médico perito, da Agência da Previdência Social em Santos, que suspendera seu benefício por incapacidade para o trabalho. Em interrogatório, a acusada diz não se lembrar do fato criminoso – ela estava sob tratamento psiquiátrico, no entanto as testemunhas e a vítima a indicam como autora. Ana Cristina usou uma faca de cozinha como arma.
Conforme consta dos autos, Ana Cristina entrou na Agência da Previdência Social em Santos por volta das 11 horas da manhã de 21.03.2007. Ela estava acompanhada de seu companheiro e de sua mãe, e faria nova consulta, pois no dia anterior a perícia médica havia concluído que ela estava apta para o trabalho. Em seu depoimento, ela conta que entrou no consultório da médica Jane S.N. Cunha, ao sair ela foi comer alguma coisa e se lembra que estava em outra sala de espera; notou que havia uma confusão na agência do INSS e sua mãe estava chorando; depois viu-se dentro de um carro de polícia, rumo à Delegacia da Polícia Federal, sem saber o que estava acontecendo. Quando o delegado lhe mostrou a faca, disse que era de cozinha e costumava carregar faca na bolsa para descascar frutas, pois usa prótese de porcelana. Ana Cristina pesa 85 quilos e tem 1,80 m.
A médica que a atendera minutos antes dos acontecimentos disse que se preocupou com o comportamento de Ana Cristina e que a considerou incapaz para o trabalho; que depois de sua saída do consultório começou a ouvir barulho, que teve medo, e ao abrir a porta viu o dr. Gustavo – a vítima – na maca; que começou a atender a mãe de Ana Cristina que estava passando mal e dela ouviu que a filha queria se vingar do médico, pois o achara irônico, ao consultá-la. Ana Cristina fora consultada pelo dr. Gustavo de Almeida no dia 14.02.2007, oportunidade em que ele manteve alta da segurada tal como prevista por perícia anterior. A dra. Jane disse que a doença da acusada não causa alienação e desorientação e que Ana Cristina tinha consciência de sua agressividade.
A vítima contou em seu depoimento que estava atendendo um segurado quando sua sala foi invadida por Ana Cristina. Ela segurava uma bolsa junto ao peito e de dentro dela tirou uma faca de cozinha. Contou que ela gritava que iria matá-lo, que tentou evitar sua aproximação, mas não conseguiu; que foi sendo esfaqueado, nas pernas, até outras pessoas entrarem na sala. Disse que tem certeza que ela queria matá-lo e que não morreu pela interferência de amigos e pelo pronto atendimento hospitalar que recebeu. Não sabia que ela era bipolar. Confessou sentir-se desamparado e que as perícias deveriam ser feitas por junta médica com todas as especialidades e com um psiquiatra com conhecimentos de medicina ocupacional.
Outras testemunhas disseram ter visto Ana Cristina agredindo o médico.
O juiz considerou os depoimentos das testemunhas e demais provas do autos, além do laudo de perícia médica e pedido da defesa de inimputabilidade da acusada, concluindo que o conjunto probatório demonstra que existe prova do crime e indícios de autoria, razão pela qual Ana Cristina será levada à Tribunal de Júri. (DAS)